A MINHA TAÇA DE FRUTA
De repente, sem me dar conta
Fiquei pensativa
Como se tivesse sido transportada
Para outro plano, plataforma, dimensão.
O que importa o nome?
Nomes são convenções
Apenas para diferenciar as coisas umas das outras
Eu falo duma plataforma acima do cotidiano
Do mediano e rotineiro
Acima do politicamente correcto!
Onde eu vejo o luar
Na minha taça de fruta
Tantas formas
Tantas cores
Sabores e texturas
Todas colhidas por mim
Ao longo da minha estrada!
Eu me pergunto pelos frutos da minha vida
Alguns doces
No ponto para serem comidos
Alguns azedos
Porque são naturalmente ácidos
Ou colhidos antes do tempo
Alguns já um pouco podres
Colhidos ao anoitecer
A luz era escassa
Dificultava a acuidade visual
Nunca tinha uma lanterna
Quando era preciso
Contudo o tempo, tudo aquieta
E tudo se harmoniza.
O que é doce, comemos com prazer.
O que é azedo...
Não é fácil esquematizar.
Á priori, deviamos pôr de lado
Mas os gostos são divergentes.
Eu não gosto de fruta ácida
Embora tenha comido muita
Ao longo do meu caminho...
Até que me fartei!
Um dia acordei decidida
E disse para mim
Acabou!
A partir de hoje, eu não como mais fruta azeda.
Eu não atento mais contra a minha natureza.
Sou livre de fazer as minhas escolhas.
Eu só como aquilo que eu quero.
Não como mais nada forçada
Eu sou a única dona de mim própria.
Resumindo
Das frutas que comi ao longo do caminho
Apenas guardo a doçura!
A fruta podre colhida ao anoitecer
Sirvo aos porcos na manhã seguinte!
©Maria Dulce Leitão Reis