A MINHA TAÇA DE FRUTA

De repente, sem me dar conta

Fiquei pensativa

Como se tivesse sido transportada

Para outro plano, plataforma, dimensão.

O que importa o nome?

Nomes são convenções

Apenas para diferenciar as coisas umas das outras

Eu falo duma plataforma acima do cotidiano

Do mediano e rotineiro

Acima do politicamente correcto!

Onde eu vejo o luar

Na minha taça de fruta

Tantas formas

Tantas cores

Sabores e texturas

Todas colhidas por mim

Ao longo da minha estrada!

Eu me pergunto pelos frutos da minha vida

Alguns doces

No ponto para serem comidos

Alguns azedos

Porque são naturalmente ácidos

Ou colhidos antes do tempo

Alguns já um pouco podres

Colhidos ao anoitecer

A luz era escassa

Dificultava a acuidade visual

Nunca tinha uma lanterna

Quando era preciso

Contudo o tempo, tudo aquieta

E tudo se harmoniza.

O que é doce, comemos com prazer.

O que é azedo...

Não é fácil esquematizar.

Á priori, deviamos pôr de lado

Mas os gostos são divergentes.

Eu não gosto de fruta ácida

Embora tenha comido muita

Ao longo do meu caminho...

Até que me fartei!

Um dia acordei decidida

E disse para mim

Acabou!

A partir de hoje, eu não como mais fruta azeda.

Eu não atento mais contra a minha natureza.

Sou livre de fazer as minhas escolhas.

Eu só como aquilo que eu quero.

Não como mais nada forçada

Eu sou a única dona de mim própria.

Resumindo

Das frutas que comi ao longo do caminho

Apenas guardo a doçura!

A fruta podre colhida ao anoitecer

Sirvo aos porcos na manhã seguinte!

©Maria Dulce Leitão Reis

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 22/01/2021
Reeditado em 22/01/2021
Código do texto: T7165796
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