Aninha
Lá naquela casinha do outro lado da linha,
Na cidade baixa, do lado da massa
Vivia uma Aninha, pobre, meiga, adorável Aninha
Casada da vida, velhinha coitada,
Cabisbaixa.
A vida tinha lhe tirado muito, diziam uns
Não! Sonhara alto demais pra ela - ousavam dizer outros.
Amarrotada, baixinha, curvada, vivia Aninha.
Ouve um tempo, no passado, em que Aninha era outra,
Não diriam que era a mesma se a visse agora,
Nem a reconheceriam
Ereta, toda postura, elegância pura,
Roupas bem passadas, falar bem apurado,
O poder em mulher
Sonhava muito, queria o mundo.
Alguns antigos contavam, ninguém acreditava.
Alguns curiosos perguntavam,
O que mudou?
Diziam eles:
Aninha se casou.
Não casamento em si,
Ela entregou sua vida nas mãos de homem,
Suas vontades, seu destino, pra eles construir o que quisesse pros dois.
Ele construiu, pra si.
Aninha ficou sem futuro construído,
Ficou com o resto, que sobrou.
Os antigo culpavam o casamento, o homem.
Aninha dizia que não,
Culpada fora ela mesma,
A vida era sua, pra construir com alguém,
Não pra dar pra alguém,
Que não se entrega a vida a quem não é seu Criador,
Com os outros apenas se compartilha.
Aprendeu tarde demais.
Marta Almeida: 12 /01/2021