Um fingidor qualquer
Como bom poeta, dependendo do tempo varia o que minto.
Quando tosco sou doce,
porque os olhos são da cor dos lábios e roxeiam quando é frio o sentimento, mentira.
Finjo um poema pois um poeta vê e ouve a vida e a ergue qual fosse o que visse.
Quem dera um poema ser à hora da tarde crer em quem mais ama,
mas há o vento em desfavor das folhas e por isso finjo.
Finjo como as beatas um desejo proibido pendido às marcas do joelho, ou os beatos.
Finjo, minto, viro o rosto.
Estalada a ripa nao há mais que o chão, mas finjo até com os pés.
Uma rosa é minha aldeia e por isso finjo com a imaginação,
como fosse alegre se dormia o pensamento.
Finjo o poema por mera usança de o fingir e alongo o fingimento e busco outro florando, fingimento moço, e assim, quando eu não mais puder, um fingidor qualquer põe-se a fingir de mim.