CANÇÃO DO EXTINTO (queimadas no Pantanal)
Em minha terra haviam palmeiras
onde cantava o sabiá
As aves gorjeavam lindamente
Mas não gorjeiam nem aqui nem acolá.
No céu haviam muitas estrelas
Nas várzeas haviam flores
Nos bosques haviam vida
Mas não há vida nem amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Não consigo respirar
A fumaça cobre o céu
dificulta a beleza do luar.
Em cismar, sozinho, à noite,
vejo ao longe a luz do fogo
que destrói tudo que encontra
matando a vida que ia germinar.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu veja a vida rebrotar
sem que desfrute o céu azul
e reveja a palmeira e o sabiá.
(Adaptação do poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias por ocasião do fogo que destrói o Pantanal e a Amazônia).