O CRIVO DA TEZ

Minha tez, minha gênese, nossa gente.

Nosso sonho, liberdade, só viver.

Nosso intento, ser igual.

Um dia, alguém, tendo a tez n’outro tom,

vira o mal, não sei bem, e coisificara o ser.

Pasmem, porém real.

Morrera o pudor, a moral, e até a santa fé,

no açoite ou no silêncio, mesureiros do poder.

A escura da tez, todo mal.

O teísta virara algoz, quiçá confrade, sei lá...

E fechara os olhos, o infeliz não era um ser...

Não bebera no graal.

E quisera o claro tom, fossem os mais submetidos,

pelo crivo da escureza, branca tez a submeter.

Imperativo infernal.

Masmorra, chibata, tronco, sangue se fizera lei.

A branca lei do ribaldo, deletério no querer...

Fizera gente venal.

Até que um dia, o cativo dera o grito, rebelara.

Outros tantos a seguir, um mocambo, uma tez.

Renascera a aura, afinal.

A virtude da princesa, nos anais da nobre gente,

avultara sobre a liça, um brasão, um escrever,

na contramão do ideal.

E vivera a alforria, cativo ganhara nome...

Assim, sonhara o negro, liberdade, um pretender.

Memórias de Senegal.

Entrementes, herança clara ainda iria perdurar...

Eras e eras, abstrusa potestade, pronta a enternecer,

encoberta e imortal.

Vida, mente, repelência, relutância, desde então.

Negra tez, redenção; o senhor, pretensão, prevalecer.

Titulação desigual.

Messias, 03.08.2020

Mano Messias
Enviado por Mano Messias em 06/08/2020
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