LUCIDEZ
Em dias de lucidez sorrio à toa
Ando sem destino
Canto pra silenciar a vida
Procuro rostos pelas ruas
Busco algo que me tire de mim
Que me faça não ver o que sou
Que me anestesie de minha presença
– Incurável e desconcertante
Em dias de lucidez sorrio à toa
Beijo pelo beijo e não por um futuro
Trabalho por trabalhar e não por um futuro
Rezo por rezar e não por um futuro
Bebo por beber e não por necessidade
Como por comer e não por necessidade
Pois em dias de lucidez vivo por viver
Retirado das distrações
e estabilizado em mim mesmo
Sorrio para ela
E ela não entende
Pensa que a vida é coisa séria
Quando, na verdade,
Não passa de uma brincadeira
Uma piada de mau gosto
Um piscar de olho
Do grande ciclope que é o Tempo
Em dias de lucidez
Respiro por hábito!