Transgressor

Agressor e Agredido, dois belos amigos

De mãos dadas caminham pela vida

A vez é do agressor, velho agressor,

Agredido aguente, apanha, não reclama

Vai chegar à sua vez,

Quando parir seu próprio ser.

A Menina da Ladeira olha as duas figuras com profunda revolta,

Não gosta do dono da vez,

Solitário, infeliz,

Recebendo de volta toda a dor que causa,

Gosta menos ainda do Agredido,

Subserviente, desonesto,

Só esperando sua vez pra descontar no próximo

Resolve: “não sou nem um nem outro,

Nem que pra isso eu tenha que abrir mão

De parir meu ser.

Agora entendo Machado.”

Mas não sossega nele.

Ainda lhe resta uma esperança:

Criar, nem que seja à força bruta,

Um terceiro papel.

Marta Almeida: 05/06/202