A condição do pão

Surge das pedras

imersas em água e ventre novo.

Na sexta-feira imprudente:

lençóis de lamúria.

Tanto desespero em vão mitigado.

A urdidura, nave feita,

parcos encontros de forno, forma.

Fornicar sem apuro

vasto, cego saguão.

Hora de ensejo e labirinto.

Silhueta esbatida toma vulto,

soma espaços:

enlevo de madrugadas dolorosas

e esperançosas alegrias.

Inocência do pão,

carência do pão.

na tarefa, repetição de normas imutáveis:

forja, preparo, fogo e espera.

Leve desatino que,

lívido,

leva à boca.

Porta de fel e núpcia de sangue.

Exangue cadência e sal.

Fenecer nessa procura de semente,

inusitada raiz de meu cansaço,

Spleen mofado na estante nova.

Molde de ideias,

carne tenra que escrutina percalços:

germén, trigo, trino.

A condição do pão

é absurda como o embaço do sol de Argel:

talvez tenha sido ontem,

talvez tenha sido massa,

talvez tenha sido sina,

talvez tenha sido vinha.

Ave pequenina,

no terreiro, um tilintar.

Migalhas de alimento e novidade:

tenro significado nesta manhã morna de abril.