Espelho quebrado (o manifesto da dismorfia)

ele nunca foi o algoz
refletiu a representação
sobre a minha pessoa
sem omitir os detalhes
sem filtros de disfarces
por inteiro a me ver
tão fundo esse contato
ele podia me ver
enquanto eu me via
raras vezes lhe dirigi um sorriso
apressada para me odiar
concluí a interpretação
de acordo com valores
incutidos e encalacrados
sobre certo e errado
ele estava apenas ali
pendurado sobre a parede
preso à porta do guarda-roupa
ou nas minhas mãos
culpado pela distorção
evitado como um vírus
para evitar me ver
para não “procurar problemas”
não odiar a realidade
me comparar com imagens tratadas
e atributos inalcançáveis
eis que sobreveio a epifania
ele era apenas ele
quem mais poderia ser
se terminou em cacos?
na fragilidade, a advertência...
na condição de ouvinte
um sábio observador
às voltas com as tentativas
de caber no sapato de cristal
de ser menos eu
e mergulhar na projeção
que nublou o entendimento
agora que já é tarde
como faço para me desculpar?
se ele nunca foi inimigo
para os demais
sempre palavras agradáveis
para mim mesma
apenas o desprezo indiscreto
o que são sete anos de azar
para quem perdeu tantos outros?

 
N/A: Estou regressando depois de um bloqueio criativo que perdurou por mais de um ano. Ainda não estou 100%, é difícil voltar depois de tudo, mas estou tentando e quando escrevo poemas desse tipo, sinto como se pudesse externar sem pudores o que se passa em minha alma.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 07/03/2020
Reeditado em 08/04/2020
Código do texto: T6882790
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