O Cerne
Eu,
tal e qual o pintor e poeta Ismael Nery,
morrerei.
Eu,
tal e qual o colega da escola de arquitetura
que morreu ontem,
pulmão dilacerado,
também morrerei.
O que ficou de Ismael Nery?
Sua pintura hedonista,
seu texto místico?
Essencialismo.
O que ficará do colega morto ontem em Alfenas?
A alegria estudantil,
a jocosa mensagem
de um humor de escracho?
Sei que um dia morrerei:
de asfixia,
de pulmão dilacerado,
desilusão,
hedonismo,
mau humor crônico,
de tosse seca,
de amor,
talvez,
essa essência inerte.
Eu,
tal e qual o poeta e pintor Ismael Nery
e o colega morto,
calarei:
esse cerne encravado
na comunhão
inaudita de tempo e sobra.
Eu,
tal e qual o poeta e pintor Ismael Nery
e o colega morto,
sou cansaço e azinhavre.