O Cerne

Eu,

tal e qual o pintor e poeta Ismael Nery,

morrerei.

Eu,

tal e qual o colega da escola de arquitetura

que morreu ontem,

pulmão dilacerado,

também morrerei.

O que ficou de Ismael Nery?

Sua pintura hedonista,

seu texto místico?

Essencialismo.

O que ficará do colega morto ontem em Alfenas?

A alegria estudantil,

a jocosa mensagem

de um humor de escracho?

Sei que um dia morrerei:

de asfixia,

de pulmão dilacerado,

desilusão,

hedonismo,

mau humor crônico,

de tosse seca,

de amor,

talvez,

essa essência inerte.

Eu,

tal e qual o poeta e pintor Ismael Nery

e o colega morto,

calarei:

esse cerne encravado

na comunhão

inaudita de tempo e sobra.

Eu,

tal e qual o poeta e pintor Ismael Nery

e o colega morto,

sou cansaço e azinhavre.

Gleidson Riff
Enviado por Gleidson Riff em 28/01/2020
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