Pontos
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Pontos
Até que ponto vale a pena...
Sofrer pelo irrecuperável?
Sentir a dor já doída?
Regurgitar o alimento digerido?
Até que ponto vale a pena...
Perder a oportunidade do dia?
Abrir a ferida que já sangrou?
Ver passar uma vida que não passou?
Até que ponto vale a pena...
Não tentar, por medo ou capricho?
Não experimentar, apesar dos rabiscos?
Aprisionar-se na ilusão dos preconceitos?
Até que ponto vale a pena...
Eternizar o luto ainda em vida?
Trazer o fardo agonizante do passado?
Desperdiçar as lágrimas, não abundando em sorrisos?
Até que ponto vale a pena...
Insistir no recalcitrante sofrimento?
Ignorar-se diante do espelho?
Esquecer-se, enquanto corpo, sedento e voraz?
Até que ponto vale a pena...
Derramar o que no erro se esvaiu?
Não se preparar para os morangos?
Manter-se no azedume do limão?
Até que ponto vale a pena...
Não abrir portas ou janelas?
Prostituir-se no silêncio do quarto?
Esconder-se, fugindo dos gritos dos lençóis?
Até que ponto
vale a pena...
Reescrever a própria história
sem mudar os velhos hábitos?
Até que ponto
tem a pena
o valor necessário
para mudar pontos.
Até que ponto?
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