CIDADÃO K

Kézia decidiu não ser mãe

Pela terceira vez

Sua mãe tinha 6

Sua avó 16

Mas ela, dessa vez

Não atura um mês

Tudo coisa do ex

Olha o que ele fez!

Klébia decidiu não ser mãe

Agora

-"O que importa?

Não é minhoca,

Plantou a horta

Sem tá na roça"-

O povo cobra

Inconsolada ela chora:

"Entrar na toca ou abrir a porta?

Fugir pra fora e se o povo nota?

Sumir agora e ir embora ?

Mudar de rota ou cair na droga?"

Nada mais importa

Desesperada ela ora

Olha onde ela mora

Ela ainda nem vota

Não tem um pé de amora

Eita. E agora?

Ela nem namora

Vai tentar, lá fora

se salvar na poça

Se não for sua hora

De acabar morta

Na fila do hospital ?

ou assim mesmo no quintal?

Era um problema de saúde pública

Agora, "algema"! mesmo ela nua!

Sangrando no meio da rua

A vida é realmente dura

Não há saúde pra cura

Quem julga nem sempre é quem cuida

Diz que cuida. Depois? pé na bunda

-"Essa menina merece é denúncia!"

Quem trata acusa, e mete a dura

-"Cadê a mãe tua?"

Keyla decidiu não ser freira

Mas quis ser verdadeira

Se enganou de primeira

Era muita cerveja

Mas depois da rasteira

Desistiu da peleja

- "Talvez ela nem mereça"

Falou todos lá na feira

Tudo na maior frieza

As pessoas são irônicas

Só se lembram da infância

Mas se esquecem a comilança

Dos gulosos que, com ânsia,

atrapalham a esperança

Da igualdade das crianças

Uma criança abandonada pelo pai

Se não é aborto, então é o quê mais?

Mas, a culpa é sempre dela

Natalidade só pra ela

Ai que balela!

"Cadê os cueca?

Nessas horas amarela"

Pensou a gazela

Se ela chorou, sangrou, foi merda!

Se enxergou com a peteca

Sua vida numa tela

Sentiu o peso da queda

Desistiu de ser materna

É pq tinha as razões dela.

Analise é a professora Juliana BRamatti

Estes e outros poemas se encontram no livro: "álbum dos cidadãos "