A boneca
Sou uma boneca cheia de buracos,
Agradeço imensamente todos os bons tratos,
Mas acredito, infelizmente, meu dono não é sábio,
Mas creio que também desconheça meu estado.
Enche-me todos os dias,
Com um líquido oscilante, ora grosso, ora ralo,
Enche-me por vezes,
Numas outras me escoa,
Ambas são péssimas escolhas.
Sou uma boneca feliz quando cheia,
Sou uma boneca triste quando vazia,
Sou uma boneca mal compreendida,
Sou uma boneca insistente, sem medidas.
Quando estou pela metade,
Não entendo minha vida,
Não sei se estou meio cheia,
Ou se estou meio vazia,
Sou uma boneca doentia.
Sinto a falsidade no estar bem,
Sinto a falsidade no estar mal,
Sou uma boneca anormal?
Por isso, não ao acaso, sinto-me em frangalhos,
Pois sou uma boneca, uma boneca cheia, cheia de buracos.