O homem que lembra
Desde o instante que nasceu,
trouxe memórias...
Coisas do útero e mais aquém.
Lembranças de quando foi selecionado, após imensa fila.
Desde quando nasceu
milhões de coisas povoam a sua cabeça
e com o decorrer da vida
coisas mais foram acrescentadas:
Cor do telhado;
Nuvens e relâmpagos;
Cães sem dono;
Barcos abandonados;
Pessoas apressadas;
Esquinas;
Imãs;
Sonhos;
Pães;
Vontades;
Vitrolas;
Prisões;
Bandeiras...
Meninas;
e beijos.
Memórias...
e com elas as ações decorrentes.
Tudo visível...
todos os momentos de uma só vez.
Sua mente, cinema sem fim...
a cada momento um filme de sua vida...
em um projetor antigo.
Histórias que sangram.
Histórias que sorriem.
Histórias que segredam o temor.
Tempos de soltar pipa.
Horas de amor perpétuo.
A professora de matemática.
O peso nos ombros.
A adolescência aventureira.
Os passarinhos no pé de jamelão.
As carambolas.
A goiabeira.
O quintal...
Enciclopédia humana.... é ele,
desde que nasceu.
Viu anjos dentro do espelho.
Viu espelhos dentro de espelhos...
seu reflexo multiplicado.
Um outro mundo
para fugir do mundo
um tanto corrido...
mesmo em dias de brisa.
Desde que nasceu, viu tudo....
seu passado, seu presente, seu futuro.
Se preencheu do vazio...
e cantou o silêncio como disfarce.
Se fez mascarado da sua ópera.
O fantasma de si mesmo.
O Dom Quixote sem moinhos.
O Frodo sem anel.
O Bergerac das sombras.
O Don Juan de boca nenhuma.
O historiador de suas vísceras...
mas também, o menino do tempo.
A asa da andorinha.
A nadadeira do peixe.
Quebrou gaiolas.
Trincou aquários.
Leu Albert Camus,
Isaac Asimov,
Fernando Sabino.
Mauricio de Sousa.
Eis o poeta.
08-04-2019
11h02min