DIVAGANDO...

Tenho na pele a secura dos anos,

Nos olhos os dias de nevoeiro,

Na boca, o amargo das verdades,

No peito o inesperado despeito,

No coração o amor sem jeito,

Na alma a força de viver,

No cérebro, escrever e ler.

Nos ouvidos, os ruídos dos aviões,

No bolso apenas tostões.

Tenho no andar o cambalear,

Nos pés o vício de caminhar,

Nos dedos das mãos o tatear,

Nos dedos dos pés, fungos,

Na gramática, os gerúndios.

Tenho tanta coisa,

Que apetece partir a loiça,

Cansado que estou de viver,

Sem nada em troca receber,

Apenas surpresas e desgostos,

Perdi os sabores e os gostos.

A vida é mesmo assim,

Pintada a pastel e a óleo,

A paisagem é a mesma,

O modelo é uma lesma,

Que se desloca indolente,

Ela devagar e eu doente.

Só se pode morrer,

Quando a vida falir,

Fecha-se a loja,

Não há clientes,

Há bancarrota

E o povo sem nota.

Por aqui fico,

De tudo desisto.

É carnaval,

Ponto final.

Ruy Serrano
Enviado por Ruy Serrano em 17/01/2019
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