Argumentando com a Solidão
 
De repente ela ganha vida.
Avança sobre a mente sã e se impõe.
É tão forte e imponente que posso descrevê-la.
Seus olhos são de ironia
E o sorriso é atrevido.
 
Ela julga me conhecer e se aproxima.
Eu desvio o olhar na tentativa de vencê-la.
Em vão.
Em questão de segundos ela me abraça.
 
Sussurra ao pé do ouvido sua intenção
E a paz de espírito então se esvai.
Inicia-se a argumentação
Em meio ao caos de pensamentos.
 
Ela sabe quando visitar.
Melhor, sabe quem visitar.
E quando questionada do por quê
Diz no silêncio a resposta que não ouço.
 
Temo ser invadido pela dor que dela exala.
Quero chorar, mas não posso...
Seria demonstrar fraqueza demais.
Então busco refúgio em outro pensamento.
 
Ela finge que está sendo vencida.
Eu finjo ser dono de mim.
Ela então dobra a esquina
E eu consigo sorrir.
 
Olho para trás buscando a pedra de tropeço.
No chão está a minha humanidade.
Ao redor desta “pedra” há tantos conceitos,
Mas nenhum fala de como lidar com clarividade.
 
Retomo o caminho à minha frente.
Atravesso para o outro lado pela contramão.
Então sinto o beijo do vento
Tendo o coração seguro em minhas mãos.
 
Mas são poucos passos até o fim.
Diminuo a pressa pra contemplar o momento.
Sinto que alguém se aproxima
E me abraça com jeito.
 
Sei que ela voltou.
Evito cruzar o meu olhar com o seu.
Ela não diz nada, nem eu.
É impossível argumentar com a solidão.