ITACA

Quando partires em viagem para Ítaca

faz votos para que seja longo o caminho,

pleno de aventuras, pleno de conhecimentos.

Os Lestrigões e os Ciclopes,

o feroz Poseidon, não os temas,

tais seres em teu caminho jamais encontrarás,

se teu pensamento é elevado, se rara

emoção aflora teu espírito e teu corpo.

Os Lestrigões e os Ciclopes,

o irascível Poseidon, não os encontrarás,

se não os levas em tua alma,

se tua alma não os ergue diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.

Que numerosas sejam as manhãs estivais,

nas quais, com que prazer, com que alegria,

entrarás em portos vistos pela primeira vez;

para em mercados fenícios

e adquire as belas mercadorias,

nácares e corais, âmbares e ébanos

e perfumes voluptuosos de toda espécie,

e a maior quantidade possível de voluptuosos perfumes;

vai a numerosas cidades egípcias,

aprende, aprende sem cessar dos instruídos.

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.

É teu destino aí chegar.

Mas não apresses absolutamente tua viagem.

É melhor que dure muitos anos

e que, já velho, ancores na ilha,

rico com tudo que ganhaste no caminho,

sem esperar que Ítaca te dê riqueza.

Ítaca deu-te a bela viagem.

Sem ela não te porias a caminho.

Nada mais tem a dar-te.

Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou.

Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência,

já deves ter compreendido o que significam as Ítacas.

(trad. Isis Borges B. da Fonseca: Poemas de K. Kaváfis,

São Paulo, Odysseus, 2006, p.100-3)