ode à perséfone

venha a mim, criança,

estou na sua ânsia, no seu chamado mais desesperado,

estou nas flores que te cercam,

ou aquelas apenas em pensamento,

estou em cada pequena morte,

em cada pequeno detalhe visto ou ignorado.

estou à sua espera, paciente,

sorridente, sem pressões ou apego;

afinal, sou aquela a qual todos e tudo retorna.

sou o começo e o fim,

sou a vida e a morte,

sou a primavera e o inverno,

aquela que destrói a luz e quem dá o dom de florescer.

em mim todas as coisas tem sentido,

toda a vida parece leve,

o fim, consola.

para mim, os caminhos são iluminados,

por mim, os açafrões se abriram,

mesmo quando minha mãe ordenou

que nada florescesse.

minhas são as escolhas,

minhas são as dores,

de donzela a rainha.

venha, criança, viaje comigo,

em direção às profundezas,

ao encontro de si mesma.