Transcrição de um Legado

Não me dizes nada ao encarar-me

Esbraveja palavras fúteis como teu sorriso

Pendura-me num abraço vazio e desprotegido

Marcando-me num trauma, já desconhecido

Não me vales teus títulos ou conhecimento

Atinge a ti próprio seu recurso perdido

Quem dera fosse entender esse inútil momento

Enquanto detesta ter-me cedido

Ainda fujo contra meu reflexo vestido

Robusto e frágil, em verdade suplico

Renegando-te a tua mensagem, um grito

Socorrei-me desse teatro sofrido, sem rito

Escolhestes desempenhar a furia das vozes

Algoz, instiga a denegrir seus instintos

Ainda que por noite eu destitua tua angustia

Quem me dera lhe trouxesse justiça ao que sinto

Por fim, insinua que sou retalhos no meu quarto

Atrevo-me a responder num só relato

Unido a linha que o tempo lhe tens findado

Costuro os tecidos em sorte, antes rasgado

Desejastes corroer na alma a minha sorte,

E no meu corpo despido, insignificante relato...

Hoje tens sangue tingindo o retrato de minha morte

Ecoando no tempo, transcrito na sepultura do meu legado...

Roberto William
Enviado por Roberto William em 22/03/2018
Código do texto: T6287027
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