Transcrição de um Legado
Não me dizes nada ao encarar-me
Esbraveja palavras fúteis como teu sorriso
Pendura-me num abraço vazio e desprotegido
Marcando-me num trauma, já desconhecido
Não me vales teus títulos ou conhecimento
Atinge a ti próprio seu recurso perdido
Quem dera fosse entender esse inútil momento
Enquanto detesta ter-me cedido
Ainda fujo contra meu reflexo vestido
Robusto e frágil, em verdade suplico
Renegando-te a tua mensagem, um grito
Socorrei-me desse teatro sofrido, sem rito
Escolhestes desempenhar a furia das vozes
Algoz, instiga a denegrir seus instintos
Ainda que por noite eu destitua tua angustia
Quem me dera lhe trouxesse justiça ao que sinto
Por fim, insinua que sou retalhos no meu quarto
Atrevo-me a responder num só relato
Unido a linha que o tempo lhe tens findado
Costuro os tecidos em sorte, antes rasgado
Desejastes corroer na alma a minha sorte,
E no meu corpo despido, insignificante relato...
Hoje tens sangue tingindo o retrato de minha morte
Ecoando no tempo, transcrito na sepultura do meu legado...