Estou com um choro preso na garganta
Estou com um choro preso na garganta,
Um choro que insiste em não sair.
Apenas se mostra a mim de vez em quando.
Arrancaram meu chão, destruíram meu mundo,
Deixara-me sem terra, mas não posso chorar,
Não agora, não enquanto não construir novo canto.
Ao menos para me encostar embaixo de uma boa sombra,
Que o sol tá quente, fervendo em minha cabeça,
Que minha cabeça está exposta ao facão cego do desconhecido,
Desconhecido que nem sabe de mim,
Não sabe que sou gente boa, que trabalha duro,
Que dou resultados, que brinco, que rio, que agora faço amigos,
Que, quando chego em casa, à noite, oro a Deus, grata pelo dia.
Que cometo meus pecados e depois me arrependo deles,
Que pago minhas dívidas nas lutas da vida.
Ele não sabe e não quer saber que fiquei sem mundo,
Apenas entende do seu, e o seu não ganha mais tanta cor,
Então tirou o meu pra ter mais brilho.
Triste desse home, que terá apenas o brilho,
Mas ficará sem mim, que valho mais que qualquer cor.
Quanto a mim, vou construir outra estrada,
Plantar nela nova planta, esperar crescer,
Colocar um banquinho debaixo dela,
E esperar tempo de colheita,
Pra, só depois, sentar, e comendo o fruto dela,
Chorar a perda do meu antigo mundo.
Marta Almeida: 08/12/2017