O artista

O artista pode ser tímido

Mas sua arte é despudorada

Ele veste o corpo

Mas desnuda a alma

Ele disfarça as emoções

Com a intensidade que emociona

Empresta sua sensibilidade

Aos milhares que habitam o seu ser

Ele pode não ser tocado

Mas o que faz, deve tocar

Tirar do lugar comum

Que o costume faz estar

Um estranhamento

Que desnorteia ao êxtase

De se perder no mundo

À descobrir o mundo perdido

Não cabe o morno na arte

Porque assim já é o cotidiano

Arte é a entrega

Que dá, mesmo sem receber

Que confia, mesmo sem gratidão

Que se importa, mesmo sem entendimento

Até que as cortinas se fechem

As luzes se apaguem

O grafite deslize

E um ponto se faça

A corda vibre

E o som se dissipe

E a arte viva, mesmo sem o artista