Um Soneto bêbado (me perdoa, Rimbaud)
Sigo sonhando nesta atroz jornada,
capitão ébrio numa nau insana,
à deriva de Ítaca e sem grana,
sem previsão alguma de chegada.
Vou tangendo um alaúde, a madrugada
com sua lua me ilude e me dana,
e eu me comovo e bebo minha cana,
depois mergulho na água gelada.
Sou criador de outras estações,
muitas luas e sóis eu já vi,
saboreei mil carnes, corações,
meu coração mastiguei e cuspi.
Avanço ainda, busco mil razões
pras outras mil razões que já perdi.