Nos arredores do meu antigo bairro
Nos arredores do meu antigo bairro
há vastidões e pedras e destroços
e é sempre em almas densas que eu esbarro,
arcabouços de sofismas e ossos.
Meu ser procura a si e a sua sina,
lá onde a lua investe a sua luz,
e vai se achar no boteco da esquina
bêbado em meio a outros ébrios nus.
Os carros se atropelam na passagem,
tal uma goela que ao mundo devora,
e eu vejo Heráclito ali, sem bagagem,
seguindo o rio da vida vida afora.
Só sei que somos todos naus errantes
numa infinita e mística odisséia
e os mares que nos cercam, trovejantes,
são nossa própria senda além da idéia.
Depois de tudo deito no quintal
pra receber a unção que me apazigua
e fico lá feito um antigo animal
que traz o universo na barriga.