Vão
Vão-se os anéis
E os dedos
Vão todos os desejos
Anseios
Vontades e arquejos
Vai se ânsia, a ganância
Brisa fria apaga
A vã esperança
Vão-se amigos
Inimigos
Vai embora a paz
A calma, a fé
O cheiro amargo do café
O leve trago
No perfume impregnado
Nos cabelos da mulher
Vai-se o mar
Vai-se o caos
Vai se eu, você
Vão-se nós
Vão-se os nós
Numa mudez atroz
Cala-se a voz
Vão-se estrelas
Constelações
Vão-se chuvas
Ventos, monções
Correm desordenados
Sedentos, desesperados
Os últimos arpejos
Das nossas canções
Vai-se o fraco
Vai-se o forte
Adeus, azar
Adeus, sorte
Vão-se todos
Acolhidos e encerrados
No doce e sombrio
Abraço da morte.