PALAVRAS DE AMOR

O que deve um homem fazer

para ser reconhecido como um?

Ser tratado com a deferência

com que a vida merece

ou ser posto de lado enquanto

o amor pela máquina cresce

sem propósito algum?

O que um homem precisa escrever

para ser considerado poeta?

Falar de anjos e dádivas

como se vivesse nas alturas

ou estender as palavras como um tapete

sobre as sujas ruas

por onde caminha a humanidade,

misturando palavras ao húmus

que faz a grama crescer

na poluída cidade?

O que um homem deve amar

para mostrar seu bom coração?

Os despossuídos,

que vagam enquanto simpósios são criados

para se discutir a pobreza e suas consequências

ou os que morrem de amor e loucura

enquanto espalham seu sangue na chuva?

O que um homem deve fazer

para seguir em frente?

Mesmo quando seu uso já é discutido

pelos neoliberais e futuristas que de repente

olham os robôs como filhos sem possessões,

o que esse homem de carne e osso

deve fazer com as mãos e pensar

com o que tem sobre o pescoço?

O que um homem pode querer

quando suas esquinas se tornaram encruzilhadas

e espiões da maldade querem o levar a nada?

Enquanto escrevo pergunto,

enquanto pergunto escrevo,

isolado dentro do dicionário da alma

sigo o périplo, só possuo uma arma,

a caneta, o teclado, o computador

onde destilo inquirições

e espalho palavras de amor...