Justa Causa

Belém, 09 de outubro de 2016.

Eu vi meu pai se arrastar

eu vi um trauma tramar

a chave do homem guardar

compra do mês a filar

eu vi o salário

esgotar

hora-extra

que detesta

álcool fez sua festa

Bate o cartão ó João

bate o cartão coração

máquina de opinião

não vejo o dia senão

na novela de uma nação

vai Maria

que acredita

que é sua vida

que é liberta

liberta

do patrão

Fugindo vou pela mata

quase a boca me escapa

"quanto o dinheiro maltrata"

fã de um escravocrata

uma cortina aparta

da sociedade a nata

“Agro é tudo”

menos pro mundo

um solo fecundo

é tão estéril

estéril

o patrão

O ônibus óbvio lotado

de um pescoço esgotado

pressinto o olho cansado

de um modelo adornado

Pro meu dinheiro trocado

e um cobrador anulado

motorista

ativista

freia na pista

pra acordar

acordar

do patrão

Na base de um açaí

que mela o dente a sorrir

que roi às vezes um mari

que rasga um jaraqui

a minha aldeia sentir

a ameaça cair

traz fome

como um drone

sem a alma só nome

só a fama

a fama

do patrão

Carrego o peso dos anos

carrego o peso dos bancos

você que era meu mano

agora se diz soberano

entramos os dois pelo cano

Baixa classe

Média classe

nós daremos a face?

pra bater

bater

o patrão?

Agora o plano de aula

viver a mente na jaula

maneira tão dinossaura

de aperta-lhe a válvula

de abobar a sua lauda

lhe colocar uma cauda

do burrinho

burburinho

escapou um bilhetinho

“Sou distinto

distinto

do patrão”

O meu profeta era livre

assim meus sonhos mantive

Tenacidade decide

cantar um salmo que vive

comerás o pão que te grite

“Sobriedade

Humanidade

Liberdade”

quem tem coragem?

pra derrotar

o patrão