A MAIOR FESTA

Engraçado pensar nos poetas, de fraque,

bebendo versos como se fosse conhaque

numa festa de muitas condecorações,

medalhas no peito, furos nos corações...

Pensar num poeta estendido na via,

ao seu lado um papel sangrando sua poesia,

seus lábios que queriam dizer as últimas palavras,

vim para este mundo para apunhalar o silêncio e sangrar por nada...

Ver um poeta num quadro na parede, morto,

de pernas cruzadas e pose de confronto e desdém,

aprisionado na foto com um certo desconforto,

rindo, por dentro, sei lá do que e de quem...

Engraçado ver que a poesia se serve destes malucos,

que atravessa a ignorância dentro do peito do poeta,

sai aqui fora e canta sua ode aos mansos e aos brutos,

sem dar a mínima faz o que todos querem, a maior festa...

Usa o poeta para descarregar suas armas letais,

abusa do sentimento e ferve a carne à carvão,

descreve coisas deste mundo aos puros e aos animais

e com seu próprio sangue escreve a palavra coração...