EM TODOS OS CANTOS DO MUNDO

Me perdi, já não sou mais meu,

pedaços repartidos em todos os cantos do mundo,

divãs sem filosofia, poemas entre crentes e ateus,

estou pregado na cruz infinita de um jeito profundo,

restos mortais como cacos de luz do antigo eu...

Estou em laboratórios onde convalescem doenças,

na selva africana onde crianças escrevem pedidos de socorro,

nos tribunais de Holocaustos onde professam sentenças,

um pouco por dia, todo dia aos poucos e muito morro,

diante do muro que se erguerá pergunto: vale a pena?

Dilemas infindos estão chegando, estão vindo,

novas questões sempre para o mesmo problema,

o homem criou o futuro e pensou que seria lindo,

esqueceu o presente virtual dentro do sistema...

Vivo entre tribos numa aldeia de índios que olham cometas,

sangro nas minas de carvão onde enterram sonhos e ideais,

o desejo de voar termina numa calçada, numa suja sarjeta,

o corpo repleto de fugas e a sensação de que somos mortais,

o homem, um número, catalogado, fichado, na prancheta...