NINGUÉM SABE...

A corda roída leva ao fundo o balde em busca d'água

ou o barulho que se escuta é o de um coração atirado

no fundo mais fundo ainda repleto do tom de mágoa?

O pássaro leva no bico comida para suas crias ansiosas

ou o que alcança o alto é só o suspiro do amado que sonha

ter de volta a morar em seu coração a sua pedra mais preciosa?

Ninguém sabe e ninguém nunca saberá

como não morre afogada a pedra atirada no mar

a dormir para sempre como uma caravela do desejo

entre flautins de peixes canoros e peixes-espada a duelar...

O que se espalha sobre a colina de pastores de ovelhas

é só a bruma que vem na noite cinzenta dos poetas mortos

ou raspas de favas atiradas pelas asas de alucinadas abelhas?

O que reparte o pão é a faca de cozinha que separa o miolo

ou é só o gesto do atirador de facas que decide matar a mulher

na tábua presa por ter sido - numa noite de inverno - feito de tolo?

Ninguém sabe e nunca saberá o que faz duas mulheres ficarem juntas

não contra os homens não contra as convenções não contra o mundo

mas apenas por descobrirem a junção de polos iguais que assustam

os transeuntes desavisados que nunca nunca estarão tão juntos...