Cântico Criminal
Eu proponho existir por enquanto
E me revelar quando for encanto
E me despojar sendo um desencanto
Atrás da morbidez do próprio penar
Essa transgressão tirânica de acenar
- com a própria certeza da amargura
Dessas que tratam com pária ternura
A genética cármica da diária loucura.
Não há emoções a serem descritas
Nem citações dolorosas inscritas
Nestes dorsos quais tu sempre atritas
Somos uma espécie muito mutante
E exageramos numa ridícula constante
- hiperbólicos, eternos transgressores
Exaltados, idiotas e agressores
Das evoluções somos os regressores.
Na rouquidão da morte que me ilude
Caminho sem divindade que ajude
Ou o aterrar macabro da saúde
Porque desdenhamos pelos excessos
E na sociedade sendo abscessos
- como pequenas janelas caóticas
Nas noites sorumbáticas e viróticas
Tornamo-nos maldades despóticas.
A potência da voz é pecaminosa
A exigência do mal é verminosa
Como essa cantoria é criminosa
Pois nossa alma é tão fraudada
E igualmente muda e não mudada
- e viramos um infame espetáculo
Dentro deste sui generis receptáculo
que mata uma vida em cada obstáculo.