Cântico Criminal

Eu proponho existir por enquanto

E me revelar quando for encanto

E me despojar sendo um desencanto

Atrás da morbidez do próprio penar

Essa transgressão tirânica de acenar

- com a própria certeza da amargura

Dessas que tratam com pária ternura

A genética cármica da diária loucura.

Não há emoções a serem descritas

Nem citações dolorosas inscritas

Nestes dorsos quais tu sempre atritas

Somos uma espécie muito mutante

E exageramos numa ridícula constante

- hiperbólicos, eternos transgressores

Exaltados, idiotas e agressores

Das evoluções somos os regressores.

Na rouquidão da morte que me ilude

Caminho sem divindade que ajude

Ou o aterrar macabro da saúde

Porque desdenhamos pelos excessos

E na sociedade sendo abscessos

- como pequenas janelas caóticas

Nas noites sorumbáticas e viróticas

Tornamo-nos maldades despóticas.

A potência da voz é pecaminosa

A exigência do mal é verminosa

Como essa cantoria é criminosa

Pois nossa alma é tão fraudada

E igualmente muda e não mudada

- e viramos um infame espetáculo

Dentro deste sui generis receptáculo

que mata uma vida em cada obstáculo.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 06/06/2016
Código do texto: T5658613
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