TENTE...

Tente plantar um pé de poesia

onde só havia

homens justos e justiceiros,

patriotas, fazendeiros,

retardatários de revoluções,

homens com canhões,

bestas feras,

mulheres insinceras,

tente semear versos onde habita a tempestade,

semear palavras que dizem coisas doces,

tente semear com mãos de lavrador como se assim o fosse,

espalhar construções poéticas em cabeças sem sendas,

por, colar, costurar, pregar nas mãos dos fariseus

teus versos cheios de impermanência, azul breu,

tente, com tua poesia, retirar as secretas vendas,

faça com que Shangri-Lá se mude para cá,

coloque poesia no carro a reboque e distribua

como se o ventre da mãe poesia fosse a mãe sua,

tente inseminar o ar e faça que ele vá vagar levando a espalhar

as palavras que ajuntaste enquanto o mundo em si recriaste

por perceber em teu eixo a poesia que te ensinou a amar...