Telúrico
Enquanto todo feromônio
Atinge-me secretamente
Caminho nas casas
Nas ruas baldias do grande centro
Como a comida porca dos subúrbios
E ganho um quilo a cada espasmo
Tanta astucia, valeu-me o cansaço
Tedioso verme da espera
Tremendo, o carbono impera
Nos meus músculos em desordem
Meus anos nada valem
Minha analogia é careta
Sou carnívoro, degluto carne
Decompondo vidas sem arbustos
Sou o poluto vermicida
Que age de dentro pra fora
Mato aos poucos os vermes
Que dentro de mim afloram
Maculando tecido branco
Como os lírios na gaveta
A promiscuidade um tanto avariada
A felicidade um pouco empestada
A sagacidade a muito danificada
Tendo-me a cair no poder
Das coisas fugidias
Nas asas de meus desvarios
Fornica em mim a esperança
Carnívora e imprestável
Canibalismo talvez
A fome eterna de você
Como correntes de aço
Penetram em mim ao asfalto
De ternura e cansaço
Tão dura a tua casca
Que se abre a todos
E me priva quando abro os braços
Curta a viagem do doente
Ao fiasco
Entretanto, abaixo a voz
Precipito-me a outras
Deixo-me levar por ondas
Germicidas que molham a boca,
Mas não matam a sede
E meus olhos são de vidros
Intactos sem emoção
E minhas palmas são de ferro
Expostas a corrosão
Tanto tempo guardado
Que a dor torna-se coração
Um beijo amargo é o escarro
Geme de compaixão
Mas o fim é a morte
Seja nela ou atmosfera
Sendo fera ou noção
E os vermes subterrâneos
Passam a subcutâneos
Da geração ao coração
Feito de borra os inválidos
Peões dos impávidos
Arfantes pacatos
Leprosos na escuridão