Papel de pão

A voz é alta e não quer calar, rispidez a maltratar,

Quase cinco da tarde, e lá vem o ciclo outra vez;

Ciclo das horas marcando impaciência até no olhar,

Silêncio, por favor! Um pouquinho só, e quem sabe, talvez...

Consiga versar ainda que só, penso em ti e em nós,

Nós que nos atam, maltratam a cada dia, meu egoísmo;

Tão democrático, pré-histórico, diria, nada simpático,

Que vejo toda vez que me olho no espelho, sem ateísmo...

Sem pregar conceitos, mas com a fé e a crença presentes,

Mas por essas mãos cansadas que me afligem, perguntam:

Que fé é essa que te desespera às cinco da tarde? Realmente...

Minha fé cabe dentro do coração, protegida dos que assuntam.

Talvez seja essa solidão enraizada, consentida, embalada,

Em papel de pão, rabiscada nas tardes de qualquer estação;

Talvez sejam minhas misérias expostas, sem consolação,

Ou a lama manchando o doce do rio, mas é vale, e aí não fale nada...