NãO ME QUero maIS
" Dores de quinta-feira"
Não me quero mais
Me pega para você
Descobri com olhos de revolta
Que nada sou
Nada fui
Nada serei
Além de cópia barata com sonhos de original
Nada do que digo é novo
Nada do que sinto é inédito
Nada que ouço é vanguarda
Nada que penso é inovador
O que sou afinal?
Talvez looping do tempo
ou flashback de dias pretéritos
Que laureia na lembrança
A mediocridade do passado
Não há testemunhas vivas para apontar o ardil
Não me quero mais
Me pega para você
Me joga fora bem longe
Me queime e sopre as cinzas
Me rasgue e recicle
Me faça confete e solte ao vento
Só afasta de mim o triste rascunho que sou
Não suporto mais olhar esta garatuja
Que raiva me dá ela
Sou aquilo que quiseram eu fosse
Sou aquilo que me permitiram ser
Sou aquilo que me ensinaram agir
Sou aquilo que me adestraram parecer
Sou aquilo que me venderam para sonhar
Sou aquilo
Sem aquém
Com que desdém
Eu sou?
Nem sei
Alguém saberá?
Alguém é?
Sempre me disseram o que fazer
E eu seguia sem perceber
Não via as linhas me puxando
Me movendo
Agora caminho cambaleando
Cortei as amarras - que falta sinto delas
Que dor isso me causa
Deus me livre dessa incerteza
Sou fantasma moribundo
Cantando melodias nostálgicas
Assombrando o corpo teimoso que não morre
A maldita esperança que não perece
me mantêm ligada a carne
Maldita seja!
Convido- Morramos as duas juntas!
Mas ela, ela não se entrega
Canta dias melhores - que audácia
Ela escarnece da minha desilusão
Zombando da minha dor com a lembrança do amor
Aquele ser mitológico e mortal
A quantos já matou
Sem ninguém nunca ao menos ter visto sua cor
Amado assassino
Também a mim apunhalou
Partiu em dois, num golpe só
Seco
O tempo colou
Um pouco
De um jeito porco
Caem pedaços a toda hora
Ficam ali ao chão
Caem me aos pés
Pisoteio com força
Que nojo da fraqueza
Que fraqueza
Ela se impregna na sola
Volta para a corrente sanguínea
e cá estamos unas de novo
Estou sem laços, com estilhaços
Não me satisfaço
O que faço?
É tudo igual
É tão normal
Insosso
Me vendi barato
Paguei tão caro
Carrego o peso do mundo vazio
No saco furado que chamo de coração
Perco sentimentos a cada passo que dou
Me debato e fujo
Tento ser mais, ser diferente
Ou ao menos ausente
Mas a dor é insistente
Bate e grita
Implora para entrar
Derruba tudo no caminho
E ali mesmo, onde couber
Faz ninho
Noto com os mesmos olhos de revolta
Agora cobertos de surpresa
Chovidos de desamor
Que tudo isso passou na piscada do olho
No silêncio de uma simples emoção
Por isso que eu digo - não me quero mais
Me leva com você por favor
* Se você leu tudo até o fim, tenho que te agradecer, porque esse ficou longo, bem longo, rs, obrigada caro visitante - habitual ou esporádico.
http://estavaakipensando.blogspot.com.br/