O Fantasma
Palavras se organizam, polindo suas botas,
Sonhando fazer mui bonito nesse desfile;
Sem temer que a mediocridade vira-latas,
Atrapalhe a mais nobre de todas as metas
Verter o amargo doce, para que desopile...
Poesia tem mania de grafitar alheios muros,
Isto é; extrapola domínios saindo pra fora;
Ainda que versem amenidades, labor mero,
Cuida atenciosa de muitos finados futuros,
Que por ainda vivos, querem alento agora...
Poeta é um fantasma que retorna pra vida,
Digo, ludibria o tempo desde antes de morto;
Quando, enfim, for pretérita sua bendita lida,
Sua alma anda será nova, um tanto, revivida,
Lendo sua lápide, encontrarão certo conforto...
Os “Ghost Busters” na alheia insensibilidade,
Pisam nessas flores fugindo de seu assombro;
Reputam fútil o que lhes teria muita utilidade,
Abrandaria almas crestadas pela dura saudade,
aceitando, quando a poesia ofertou seu ombro...
Claro que seguros da sapiência de suas escolhas,
sequer cogitaram auxílio de um tão frágil fulcro;
abdicaram das flores se contentaram com folhas,
mas, agora que estão caídas essas inúteis telhas,
dizem as mais belas falas, ante o mouco sepulcro...
Contudo, nem sempre a força é do reputado forte,
Certas coisas demandam tempo aferidor de medida;
É nas horas duras que ameniza a sutileza da arte,
poeta olha bem antes, no fundo dos olhos da morte,
lançando nas fuças dela, uma lição, o sentido da vida...