amor, o amor que se esvai do tempo

acorda a vida, amor, é a vida

é o tempo no meio do dia

um anjo calado deixou um legado

dizia um nome perpétuo "melanê kolê"

é o tempo no sentido do mundo

esse tempo que não passa, não passa

só mexe os ponteiros de coisas vazias

a aorta pulsa, amor, de redenção?

é o coração na contração do tempo

estamos tão carentes de recordações

nem o bem, nem o mal, nem a culpa

nem sei desses tais velhos valores

só há o tempo sem a experiência

nem deus quer saber de escândalos

da sua porta, amor, um anjo caído?

tem uma criança dentro d'um cesto

a pele manchada com uma bílis negra

isso vai virar manchete sensacionalista

quem se importa com o ensinamento?

convém o aprendizado pela convivência

são os impactos tão súbitos quanto breves

na tua fala, amor, há uma acidia

a tua voz está numa encruzilhada

onde o monótono cruza com o vazio

tem um nó na garganta que te engasga

é preciso o excesso da droga, da comida

promova as guerras em nome da paz

o tempo é que precisa ser esquecido

o teu corpo, amor, passante no tempo

uma grande soma de muitos valores

nem o atual pelo número de série

nem o obsoleto pelo valor de troca

tantos cuidados pelo valor de uso

tão desejado como um belo objeto

um corpo e as paixões de um anti valor

são as rugas, amor, de um não-amor

era vazio o tempo da nossa morada

ou éramos nós que não estávamos em casa?

eram os monges dos mosteiros em jejum

no mármore gelado o sentido do mundo

o amor "akedia", "tristitia" em cadáver insepulto

as memórias, as estórias da terra, formou-se o "atraso"

o teu amor, amor, segura o queixo de Rodin

nasceu no devir do tempo sagrado

ao tempo infinito das repetições se desfez

no templo do culto profano dos fetiches

o tempo repetitivo da monotonia e da morte

no tempo que tudo é exibição e mercadoria

o amor é produção, é objeto repetido ao infinito

dorme a vida, amor, amor que dorme

é o tempo no meio da noite

um anjo calado deixou um recado

emudecia o nome perpétuo "esperança"

é o que faz girar o sentido do mundo

nesse tempo de sonhos tão modernos

onde se mexe os tinteiros com penas vazias

no tempo do vazio, no tempo do tédio e da melancolia

quanto é que estamos valendo hoje?

~.~.~

Eleni Peta - "O Mar e tu"

Eleni Peta performing live "O Mare Tu" with the Plucked String Orchestra of the Municipality of Patras. Greece.

http://youtu.be/NQro_q1ANHM

http://www.elenipeta.gr

http://interludioepoesias.blogspot.com.br/2014/08/amor-o-amor-que-se-esvai-do-tempo.html

neanther thals
Enviado por neanther thals em 08/07/2015
Reeditado em 15/01/2016
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