Na sala de exame
Aqui neste anfiteatro, sala de exame
Há tanta gente como um tropel, enxame
Todos unicamente na pugna dum só sonho
Todos com um uni objectivo risonho
No momento rival, que outrem não se ame
Aquém triunfará e há quem passará vexame
Observo para cima, observo flancos em flancos
Por ver a minha folha de exame em branco
O que vou escrever será que deixarei no esbranquiçado
Não, tenho que recordar de tudo que tenho estudado
Ponho a mão na cabeça, olho a janela, brinco com a esferográfica,
Chio os sapatos, dou um assobio. Cansado dessa serie crónica
Vejo as horas e só restam me quarenta e tal minutos
Nas sessenta questões respondi vinte. E diminuto
São as horas. Espaireço me enquanto escrevo esses versos
Olho o meu rival que está a terminar, copio ou lhe peço?
Não. Há que lhe copiar enquanto está errado e assim tropeço
Por mais que eu erre ou acerte, serei o autor do meu vexame ou fruto
O bem comum é que nos repele
A ânsia dum futuro próspero nos faz aquele
Indómito, rival, fera, meio canibal
Olvidamos que vamos num só sepulcral
Todos filhos dum só senhor, morte, o umbral
Para todo o ser vivo feito de osso e pele.
17-01-2015
Sala de exame da UP.