Troncos

Tem tronco ainda, seu moço!

A cada tempo, um tronco...

Há tempos fui açoitado pelo chicote,

Tronco era de madeira!

Fui açoitado pelo apartheid,

Tronco era de ganância!

Fui açoitado pela injustiça,

Tronco era de negação!

Fui açoitado pelo desemprego

Pela fome,

Pelo beco, sem opção,

Tronco era de preconceito

De tempo em tempo,

Troca o tronco,

E o açoite, seu moço,

Permanece!

Ontem, no tronco da igreja

Açoitaram minha crença,

Mês passado, no tronco das ruas

Açoite veio da (in)justiça,

Açoite de chumbo grosso, seu moço,

Tirou minha vida!

Inda agora,

No tronco de um olhar,

Senti um açoite de medo...

Esse nego é suspeito!

Aprendeu tudo errado,

Coitado!!!

Ódio, medo e preconceito ensinados...

Diz pra ele, seu moço,

O lado da história que não foi contado...

A história que foi vivida,

Construída,

A liberdade suada!

Conta que na massa dessa construção,

Tem muito sangue de negro.

Cimento, tem não!

Tem sal de suor...

Resistência,

Afirmação...

Conta pra ele, seu moço,

Que, com tanto tronco,

Lombo já grosso,

Vou construindo um trono!

Não para mim,

Para a humanidade quando acordar...

(Eva Vilma)