GENTRIFICAÇÃO
GENTRIFICAÇÃO
Extirparam, faz bem pouco tempo, meu espaço
Que eu pensava também há pouco tempo, fosse meu
Um banco de praça, onde já velho,
Eu sentava
Deram pouco valor ao meu assento
Acertaram um preço
Do qual não tenho lucros
O balanço e o escorrego
Também levaram
Arrancaram como uma raiz de árvore
E por falar nisso: cortaram as árvores também
As crianças não precisam brincar
Os velhos não precisam de descanso
E o ar deixou sua pureza no passado
O lugar das crianças é na escola
Cercadas de muros e segurança
Tendo a frente um professor que fala mas não ouve
E lugar de velho é em pé na fila de um banco
Não sentado no banco de uma praça
Até o lugar onde eu estacionava o meu carro
Agora é privativo
Verticalizaram ainda mais os prédios
Na esperança de alcançar o reino de Deus
Só pode
E o poder público acha que pode tudo
Sim porque se quero cortar uma árvore
Dentro de minha propriedade
Acabo desistindo por cansaço de tanta burocracia
Dia desses desisti de visitar um amigo
Por não encontrar uma vaga disponível no meio da rua
Essa rua onde a gente pisa e se acha o dono
Onde a chuva toca e escorre livre como um pássaro
Ainda bem que tenho o vale passe livre
Com ele não preciso pagar pedágios
E tem aos montes de pedágios espalhados pela cidade
Só então consigo entender o camarada que desiste de morar em metrópoles e megalópoles
Fugindo para cidades pacatas e sem essas taxas ridículas e outras cositas mais que nem merece tecer comentários
Andam falando que é por uma boa causa
Um tal de progresso futuro ou futuro do progresso
Assinaram um lindo contrato e começaram as obras que não são de ficção
Desalojaram alguns pobres e acomodaram outros nobres
Esses outros andam engaiolados
E já contrataram até um caminhão para realizar a tão sonhada mudança
para bem distante desse tão falado desenvolvimento.
*Esta é uma obra de ficção.