O passageiro do trem
O passageiro do Trem
O trem estava cheio, cheio de gente e não de bichos
Olhei assustado e ninguém assustado olhou pra mim
Porque simplesmente nenhum sinal de gente eu possuía
Porque o que só existia estava na tela do smartfhone
Nos toques deslizantes dos dedos
Nos olhares penetrantes e esvoaçantes
Nos risos e seriedades que iam e vinham
Iam e viam
Daquelas telas coloridas navegantes
Minhas mãos vazias
Minha boa seca
Que nem mais uma palavra eu conseguia balbuciar
E no meio daquele silêncio louco eu precisava falar um pouco
Mas em vão eu tentei
Minha língua presa
Minha comunicação com rédeas
Minha liberdade de expressão sem locomoção
Então passou um desses baleiros que transitam nos vagões
E eu o chamei
Mas ele também estava a espiar algo novo no seu what zap
Parecia uma morena virtual
E nem me deu atenção
Ninguém conversava
Ninguém se tocava
Ninguém
Eu suspirei
Eu me segurei
Mas finalmente eu gritei: SOCORRO!
E o grito ecoou por todos os espaços...