Liberdade

E essa aflição que me toma a respiração

Esse descompasso louco da falta de vontade

Junto a minha insensatez de querer dormir

Não sei bem como saio daqui, pego o elevador

Tenho medo de altura, não posso dormir!

E se cochilar o cachimbo cai, o fumo queima

Em brasas arde meu coração solitário

Bate calado entre caixas, quatro paredes metálicas

Ferro chumbado, pregos batidos, andaimes apaixonados

Onde fica o corrimão, logo ali, tem razão

Escorregar os dedos leves, deixar o tato guiar

Confiar no sentido é destratar comigo

Melhor não provocar

Fico sem ar, não repare, fico roxo, compare

Sou grená, dispare, sou alarme luminoso, separe!

É o estalar das estruturas, o caminhar nas ruas

O catar lixo não sendo gari, tomar café aqui, ou ali

Tanto faz, sem rumo na avenida semaforizada

Excesso de velocidade, rota alterada

Se tenho dois pés e a devassidão do mundo, ando

Um nariz e uma direção a seguir

Liberdade abriu-me as asas faz um tempo

Serei alucinadamente preso ao que me faz digredir

Não posso negar o medo do futuro

A experiência do passado me alarma, faz-me corar

Sei o que sou, o que não devo, a dor que já tive

Não vou saber como curar, vivendo de uma certeza

Morrendo de véspera para não desapontar

Quando chegar o momento de alguém muito

Próximo, será dor e lamento, lágrimas também

Podem rolar, e que ousadia é secar

Deixe o vento trabalhar, o sal ficar

Pode lamber, a vida não é doce não, doce ilusão

Estar preso a mão de um menino é coisa de

Metáfora, sou dos que ando sozinho

Mas dos que sabe que tem buracos no caminho

E que é melhor ter uma algema ao lado

Do que se afogar nas rotas do destino

Gabriel Amorim 24/07/2014