E daí?
E daí?
Tomei banho mais cedo
Sabe, não quis dormir com os cabelos molhados
Tenho medo de resfriado, praga de mãe, mau-olhado
Resolvi acreditar em crendices, deitar mais cedo
Catar em minhas catarses um transe definitivo
Sabe, catar-se mesmo, literalmente
Que é pra ver se fico logo junto a Morfeu
Se meus pecados são resfriados pelas lufadas das redondezas
Uso cobertor e ainda sinto frio
Tomei banho mais cedo pra ver se não durmo molhada
Ver se não choro novamente, ver se arranjo motivos
Ver se, dessa vez, não durmo rezando, quero proteção total
Sonhar com musas e arcanjos, dormir sem ruídos
Resolvi dormi mais cedo pra ver se calo a alma
Ruidosa, pertinente, empertiga minha calma
E tentar fechar as pestanas, distribuir bananas
Também inimigos a minha espreita, quero dormir mais cedo...
Vai que o corpo cansado não reclama
Aparece amanhã, em minha janela uma andorinha dessas urbanas
Quiçá uma vaca profana, cantamos junto um rock
Passamos pelo clássico burguês, declamamos Betânia
Quem sabe deitei porque o lombo reclamou
Clamou coisas íntimas demais de nosso corpo
Envergonhou a todos, fiquei sonolenta
E era o olho que não queria fechar, o coração latejar
E eu, pacientemente, enxugando madeixas, dobrando lençóis
Tentando dormir mais cedo...
Se me indagarem responderei errado
Rirei descontroladamente calado
Esse é meu jeito de ser, amar, debochado
Amar sempre, coisas que me deixam cansado
Deitei mais cedo...
Ah! E quem sabe eu deitei porque bem quis
Quem sabe eu não aguente mais essa rotina infeliz
Danem-se os rotulam meu ressonar agoniado
Vão a merda os que indagam meu caminhar errado
Questionem sempre a minha pessoa, meus trejeitos, minhas metamorfoses
Que eu sempre mudarei de resposta, sempre terei sombras impostas
Não me encarem com preconceito, fico sem jeito, adormeço...
Tudo isso me dá sono, me protege Senhor, Amém!
E dormi, como de costume, ao ver estrelas, tendo ciúmes
Obedecendo rotinas, alimentando vícios, acostumem-se!
Gabriel Amorim 06-05-2014