A raiva e a esperança
Nesse estado de coisas
a que chegou o nosso cotidiano,
só com raiva pode-se viver
porque da raiva vem a esperança.
Veja bem, da raiva contida, estagnada.
A raiva como um machucado com cascão
que já sarou, mas ainda inspira cuidados.
A raiva pelos problemas insolúveis,
aqueles que só mesmo Deus.
Mas se a raiva seca
como seca um rio antes de chegar ao mar,
não há mais indignação,
não há mais revolta,
nem tampouco rebeldia.
E o destino vem anunciar
a morte prematura daquele ser vivente.
Porque se sem raiva pode-se viver por um tempo,
sem esperança é que não se pode mesmo.