AUTORRETRATO - Poesia nº15 do meu segundo livro "Internamente exposto"
Eu fico sozinho diante do espelho
E visualizo a cicatriz na minha testa,
Que acidentalmente pra sempre ficou.
Agora, aqui estou esvaziando as veias
Do destino, no momento que me resta.
Enfim, vejo, admirando meus cabelos brancos
Da experiência, que nas minhas costas caem...
Sigo em frente olhando o vazio...,
Sem voltar atrás velhos caminhos.
No meu quarto um blues a tocar...
Lá fora, um céu se verte em seu breu,
Que quando inimaginavelmente o noto,
Engole-me nos meus desgastes da realidade,
Camuflando-se nas suas poucas estrelas vigias,
Já cúmplices, desta minha tentativa de atividade.
Sempre mantendo as horas dos
Dias chupadas na cura do tempo,
Faço um rabisco ora aqui, ora ali,
Seco o rio de quem já me esqueceu;
Emendo as letras que me remendaram,
Tento recriar momentos que deserdaram...
Antes as dinamites estrondosas
Arrebentando cabeças parasitas,
Do que palpites nas minhas prosas,
Torcendo as minhas palavras já ditas!
Então, só me resta ser como um passarinho
Que lá de cima, bem feliz e no vento a planar,
Defeca em pleno e belo voo,
Despreocupado com o rumo
Que a merda possa tomar.
Feridas se curam sim,
Neste eu dentro de mim;
Mas, a imagem nunca se imita,
Do poeta que jamais se limita...
Não me esqueço que a vela que um dia eu acendi,
Nos propósitos de derreter as lembranças até o fim,
Pode voltar a ser acesa e dar vida a quem já pereci...
O autorretrato vem da glória, da fantasia ou castigo,
Acontece d’um conto real dentro do que eu persigo!