Ver o que na cidade?...
Ver o que na cidade?...
Andarilho desnutrido
Sem pão, sem provento,
Na busca de abrigo
Antes da boca da noite
O gélido açoite do vento?
Ver o que na cidade?...
Por cima do muro,
Esmiuçar no monturo
A fartura restrita,
A sujeira maldita
A solidão tão proscrita?
Ver o que na cidade?...
O andar indeciso
A calçada estreita
O destino sem dono
O vício, o abandono,
A vida vã se rejeita
Na miséria que espreita
As bitucas no chão?
Ver o que na cidade?...
Além da razão
Aquém da emoção
Através da promessa
De quem bem se expressa,
Alimenta a esperança
Que morre sem pressa
Sem dor, compaixão?
Ver o que na cidade!...
O difícil enxergar e não ver
Nem compreender
Esse ser ou não ser
Que tal vida permeia
E sentir atrás de cada porta
Que de fato se importa
Com a suicida cidade,
A infeliz cidade alheia...!
(dfholanda, Aclimação, 13/11/2013)
Nota: Título baseado em pichação de muro na cena de rua de andarilho. Obrigado, Inaiê Goulart, pela foto inspiradora...