À la Nelson Rodrigues

Fechem as janelas, abram as cortinas, que o espetáculo começará

Hoje no teatro não terá palco, talco, maquiagem ou encenação

Nascerá João, filho de Carlos e Maria, filho único sem irmão

São poucos os espectadores, são muitos os amores, demais os rancores

Não se sabe se é drama ou comédia, sabe-se que é a vida é prévia

De um filme que é promessa, que poucos querem comprar

Aos poucos, se apagam as luzes, cruzes, não consigo enxergar

Quem é ela? Protagonista. Quem sou eu? Artista. Que diretor comandará?

Deus, me ajude, já ouço vaias quando tento comédia,

Poltronas reclinadas me deixam apavorado,

Será sono, será tédio, será nada?

Deixei de conjecturas, larguei dos tendões,

Estreei confiante, sou um bom ator

Confiei nos coadjuvantes,

Nos poucos pagantes, que visualizariam meu versejar

Não seria o meu pintar, cantar, escrever, amar, sofrer, viver?

A hora do desfecho se aproximava, o teatro gelado ensaiava

Os murmúrios, os risos, os aplausos, não ouvi nada, fiquei calado

Extasiado, sentado, um homem me olhava

Barba por fazer, nada para fazer, ele só observava

O espetáculo acabou, as luzes se acenderam, as máscaras caíram

Chegaram os zeladores que me levaram as roupas, as máscaras, as faces

Tudo indicava um simples final,

Sem foguete, sem retrato, sem bilhete, sem luar e sem violão

Saí da obra-prima reprimido, e por um só homem, de pé aplaudido,

O velho barbado, com as barbas de molho sorria,

Timidamente estendeu sua mão a mim

Assentiu com a cabeça, fez cara de choro,

Ganhei um ingresso para um drama de mim

Gabriel Amorim 10/10/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 23/10/2013
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