Quem desespera

Quem desespera ainda uma vez acredita,

Pois geme, sangra e palpita

Ao perceber o impossível da esperança

Que a vontade divisa e abraça.

Crê no impossível desacreditando,

Lamenta o perdido procurando

Um fio pelo qual o retome

E com novas energias o dome.

Desesperar é esperar, ainda

Que seja o futuro temível

A dor imensa e nunca finda

E o vazio inquietante, inexprimível.

Ousa a pessoa lançar à idéia vaga

Aquilo que hoje nos amarga

E no passado foi valiosa paga.

O desespero é o refúgio de quem acredita

Faz voltas mil com o fio do discernimento

E assim mais distante o delimita.

O desespero audaz, bravo e rude

Que vai clamando em tom agressivo

E grita ao eterno- Mude! Mude!

Atrevido e impusivo.

1993

Nota

Escrito aos dezessete anos após ler "O pensamento vivo de Nietzsche", de Heinrich Mann.