A Batalha Oculta

Para abrandar-me a cólera feroz

O hino extenso inexplicável da beleza,

O mínimo gesto e as coisas sem voz

Cristais nus de amor e profundeza

Esse téte-a-téte imenso que convive

Dois seres numa carne convergidos,

A luz pura que nos campos vive

E a flora segredada dos sentidos.

Sangue e ar libados em êxtase,

Palavra e silêncio, prodígios de amor,

A essência humana, a múltipla linguagem,

E o mistério ideal manifesto na flor.

Carícias em virgem triunfo de alvorada,

Ritmos sabedores, ébrios e dissolutos,

Tal no Te Deum a floração sagrada

E nas bocas mudanças gorjeios astutos.

Tudo, oh Deus! Oh humanidade em delíquio!

Tudo que extinga o bobo fratricida

Que abisma de adagas precioso colóquio

Mordendo em asco a fonte da vida.

O suave encanto suplante o monstro atroz

E o amor se adube da carcaça informe.

Pela noite transfigurada oculta voz

Sussurra o segredo redentor ao homem.

11/09/1999