Poema para Gustavo Gutiérrez
Nunca te vi, Gustavo,
Mas nas tuas palavras te encontro,
Em cada linha, um grito,
Em cada verso, um povo.
És irmão nas ideias,
Amigo na fé que nos une,
Aquela fé que desce ao chão,
Que pisa terra, que toca mãos.
Pensaste uma Igreja dos pobres,
E eu, como tu, a busco viver.
Não uma igreja de altos altares,
Mas aquela que se faz abrigo,
Que acolhe o irmão sofrido,
Onde a esperança é semente e flor,
E o Evangelho não é discurso,
Mas pão, justiça e amor.
Nas tuas páginas, América Latina fala,
Ameríndia, nossa terra de rostos marcados,
Os filhos das montanhas e vales,
Do campo e das favelas esquecidos,
É neles que a tua voz ressoa,
Como um vento que levanta a poeira,
Como água que sacia o sedento,
Tua teologia não é letra fria,
Mas sangue, suor e luta viva.
No ventre dessa terra oprimida,
Tu viste o Cristo crucificado,
O pobre sem nome, a mulher silenciada,
A criança de olhar faminto,
E, ao escrever, desenhaste caminhos,
Uma fé que se constrói em ação,
Onde o Reino se faz real,
Na mesa partilhada, no chão comungado.
Teus passos ecoam em mim,
Na busca por um mundo novo,
Onde a voz dos pequenos seja ouvida,
E a justiça seja o pão diário.
Não te vi, mas te escuto no vento,
Nas vozes que clamam nas ruas,
Nos gritos calados da terra,
Nos rostos cansados da espera.
És farol, Gustavo,
Luz para os que andam no escuro,
E mesmo sem te conhecer,
Carrego tua missão no peito.
Teologia que é gesto,
Que abraça o ferido,
Que enxerga no pobre o sagrado
E no oprimido, o rosto divino.
Gustavo, tu sonhaste a liberdade,
Aquela que nasce do amor,
E eu, na minha jornada incerta,
Te sigo, buscando o mesmo ardor.
Na teia dos povos esquecidos,
Na dança dos que resistem,
Tua palavra é força,
Tua fé é chama que persiste.
Nunca te vi, Gustavo,
Mas te abraço em cada luta,
Te celebro em cada prece,
Pois na tua teologia de libertação
Eu também encontro o Cristo vivo,
Nos pobres, no campo, na multidão.
E nesta caminhada juntos seguimos,
Construindo a Igreja que sonhaste,
Uma Igreja que se faz povo,
E uma sociedade onde todos têm lugar.