Segunda travessia
Travessia
Fiquei por muito tempo esperando algo que me parecia certo
Embarquei num navio vazio que me levou a um vale deserto, esperei e não compreendi de início
Achei que todos estariam por perto
É certo que tudo é incerto
Após muitos anos de solidão e passos intrépidos, ceticismo e reconstrução
Percebi que alguns homens são fadados a uma jornada gélida, irregular e deserta
Essa é minha regra
Não há casulo que me proteja dessa promessa
Reter meu inconformismo com a realidade indubitável foi minha primeira lição
Aguentar a barra sozinho
Chorar sem ter direito ao meu próprio perdão
Essa travessia é minha bandeira
Causas perdidas que habitam meu coração
Apesar dos pesares sou apenas um rapaz comum querendo uma sombra
Sonhando em que algum dia não existirá réstias de escuridão
Agora já não durmo
Tampouco, sonho acordado
Meu catálogo de coisas pra resolver me dispersa do caminho de apenas ser
Não estou mais interessado no que sinto
Manter essa dualidade metafísica requer olheiras delatoras
A vida anda meio morta
Morta de vontade de um dia de silêncio;
Sol e relógio parado
Não é simplesmente um cansaço banal
Todo esse vômito emocional é um protesto pessoal
A vida, ao menos, às vezes, precisa ser um passeio no jardim
Isso explica tudo
Ao menos diz muito do que há em mim